Na Seagate, foco é reverter reflexos de desastre na Tailândia

novembro 30, 2011

Comparada às várias fabricantes de discos rígidos que têm operações na Tailândia, a Seagate Technology teve sorte. Apenas 180 de seus 15,4 mil funcionários estão entre as 13 milhões de pessoas cujas casas foram inundadas.

Na Seagate, foco é reverter reflexos de desastre na Tailândia

A enchente que engolfou a maior parte do coração industrial ao norte de Bangcoc nas últimas seis semanas poupou as duas fábricas tailandesas da Seagate. Na verdade, as condições climáticas em torno da fábrica da Seagate em Teparuk, que está fora da zona inundada, estão atipicamente secas, diz Jeffrey D. Nygaard, que dirige a filial da companhia na Tailândia.

Apesar disso, o executivo-chefe da Seagate, Stephen J. Luczo, prevê tempos difíceis para o setor de discos rígidos. Cada uma das centenas de milhares de unidades de discos despachadas diariamente pelas fábricas tailandesas da Seagate contêm peças de aproximadamente 130 fornecedores, muitos deles ainda sob três metros de água. As previsões de alguns analistas de Wall Street, de que a produção estará de volta a níveis pré-inundação até o verão (no hemisfério norte), são absurdas, diz Luczo. “Isso vai levar muito mais tempo do que as pessoas estão presumindo; demorará pelo menos até o fim de 2012?, diz ele. “E, até lá, a demanda terá crescido.”

Luczo, de 54 anos, está dedicando menos tempo a seus hobbies – ele é um ávido praticante de snowboarding, é dono de uma gravadora, de um estúdio de cinema e de uma equipe de carros de corrida fórmula Indy -, para se concentrar na recuperação do setor. Se sua previsão estiver correta, quem precisa de um disco rígido – de fabricantes de laptops e decodificadores de televisão a operadores de centros de dados que hospedam importantes sites de redes sociais – vai sentir o aperto.

Fabricante de discos rígidos está antecipando empréstimos a fornecedores e negocia contratos com clientes

Os preços médios das unidades de discos rígidos já subiram cerca de 20% por causa da enchente, que está afetando uma infraestrutura que produz cerca de 40% dos discos rígidos do mundo. Os dois maiores concorrentes da Seagate, a Western Digital e a Toshiba, têm, ambos, grandes fábricas na zona inundada, e a produção da indústria neste trimestre deverá ficar 50 milhões de unidades aquém de sua meta de 180 milhões.

Somente agora é que os varejistas e distribuidores locais vão começar a sentir os efeitos. “Vai ser muito interessante ver quem receberá unidades de discos e quem vai ficar a ver navios”, diz Luczo. Ele diz estar conversando com clientes repentinamente ansiosos por contratar a absorção parcial da capacidade produtiva da Seagate, apesar do aumento dos preços. Alguns já ofereceram US$ 250 milhões adiantados, diz ele.

Todo o dinheiro do mundo de nada adiantará se Luczo e outros fabricantes de unidades de discos não puderem obter os componentes de que necessitam. Apesar de baratos – um megabyte de armazenamento caiu de US$ 50 dólares em 1981 para um décimo de centavo de dólar, hoje – as unidades de discos rígidos são incrivelmente complexas. No interior de cada unidade, um braço levíssimo paira, suspenso, acima de um disco magnético que gira a velocidades de até 7,2 mil rotações por minuto. O braço tem uma cabeça de gravação do tamanho de uma semente de pimenta, que fica acima do disco a uma distância medida em nanômetros – menor que os sulcos de uma impressão digital, como gosta de explicar o pessoal de marketing. Cada unidade de discos contém mais de 200 componentes, em sua maioria projetados para modelos específicos. Muitos fornecedores são empresas familiares que fabricam componentes industriais específicos únicos ou substâncias químicas especiais.

Poucas empresas dessa cadeia de suprimento extremamente ajustada, atraídas para a Tailândia por baixos salários e incentivos governamentais, já pensaram que um dia precisariam preocupar-se com grandes inundações. Quando a Hutchinson Technology, fabricante de braços de suspensão, inaugurou há um ano uma fábrica no Parque Industrial Rajana, distante 8 quilômetros do rio Chao Phraya, não encontrou problemas para contratar um seguro contra enchentes, diz seu executivo-chefe, Wayne Fortun. Horas depois de um dique se romper, em 10 de outubro, sua fábrica foi inundada por água que atingiu seis metros de altura. Funcionários transferiram parte do estoque e equipamentos para o segundo andar, mas cerca de US$ 50 milhões em maquinário altamente especializado continuam presos ao piso. Fortun ainda não tem ideia do que poderá ser salvo. “Segundo o relatório mais recente, a água baixou para 1,2 metro”, diz ele. “Estamos esperançosos de que até a primeira semana de dezembro tudo estará seco”.

Gerentes na fábrica da Nidec, que produz motores para unidades de disco e também tem uma fábrica em Rajana, decidiram não esperar para que a água baixe em suas sete fábricas inundadas. De acordo com o porta-voz da empresa, Masashiro Nagayasu, eles abriram um buraco no teto da fábrica em Rajana e contrataram mergulhadores para submergir nas águas infectadas de substâncias tóxicas, soltar alguns equipamentos pesados e tranferi-los para embarcações de transporte. Alguns dos equipamentos já estão sendo usados em fábricas da Nidec na China e nas Filipinas. “A vitalidade dessa cadeia de suprimentos foi revigorada por anos de competição”, diz John Rydning, analista da empresa de pesquisas IDC, que em 10 de novembro disse acreditar que a escassez de unidades de discos poderá diminuir em meados de 2012.

Luczo diz que essa é uma visão excessivamente otimista. Sem dúvida, ele tem interesse em que os compradores preocupem-se com o futuro e façam pedidos já – a preços elevados. Ainda assim, mesmo depois que as águas baixarem, poderá levar um ano para que os fabricantes substituam seus equipamentos, e muitos poderão ter de mudar para outro lugar. (Luczo pensa em exigir que os fornecedores da Seagate se estabeleçam fora da planície de inundação.) Isso, caso disponham de capital. A Seagate está adiantando empréstimos para alguns fornecedores e outros podem tentar o fundo de reconstrução de US$ 4,2 bilhões anunciado pelo governo tailandês.

Com tantos elos frágeis, alguns analistas dizem que o setor inteiro poderá ficar travado. “Não importa quantos ‘volantes de direção’ possamos vir a ter, se não conseguirmos um número suficiente de ‘caixas de transmissão”, diz o analista Richard Kugele, do banco de investimento Needham.

Luczo vem argumentando há anos que a importância dos fabricantes de unidades de discos rígidos tem sido subestimada. Desde a década de 1980, os fabricantes de PCs e outros clientes têm “espremido” a Seagate, a Western Digital e outros grandes fabricantes de discos rígidos, pressionando-os a aceitar preços baixíssimos. Para aumentar o poder de barganha da Seagate, em abril Luczo gastou US$ 1,3 bilhão na compra das fábricas de discos rígidos da Samsung. Mas o dilúvio está proporcionando a Luczo mais influência sobre os preços do que qualquer fusão poderia assegurar, e as ações da Seagate quase duplicaram desde 30 de setembro, para mais de US$ 17. Luczo diz que poderia elevar os preços em 40%, mas, está oferecendo 20% de aumento aos clientes que firmarem contratos de um a três anos. “As pessoas vão se dar conta da complexidade de nossas operações”, diz ele.

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